Por Dr. Bruno Duarte – Médico Psiquiatra da infância e juventude da FMRP/USP
Muitas vezes ao pensarmos na vida de uma criança acolhida, acabamos pensando em como seria bom se aquela criança tivesse uma cama quentinha, todas as refeições ao longo do dia, uma casa, pudesse estudar numa escola melhor, dentre muitas outras coisas! Mas se pararmos para pensar, vamos ver que, em muitos abrigos, muitas destas crianças já recebem muitas destas coisas, e então fica a dúvida: por que então apadrinhar ou adotar?
No início dos anos 1900, existia uma perspectiva dominante de que crianças pequenas valorizavam os relacionamentos primariamente como uma fonte de comida e segurança, e que se estes fatores fossem providos, a criança iria “se dar bem na vida”. Entretanto, foi em meados de 1952 que John Bowlby observou que crianças separadas de suas mães e colocadas em enfermarias para cuidado comunitário sofriam grande estresse e angústia, mesmo com bons cuidados por parte da equipe. Através disto, Bowlby desenvolveu seus estudos, que foram ampliados por Mary Ainsworth em meados de 1960.
Através de seus estudos, Bowlby e Ainsworth puderam observar que o contato afetivo da criança com uma figura adulta adequada e que pode ser sua referência traz 04 benefícios mais evidentes na vida de uma criança:
1- Provê o senso de segurança: crianças com figuras de vinculação adequadas se sentem amadas, mais seguras, sabendo com quem podem contar e mais “prontas para explorar o mundo à sua volta”;
2- Promove a regulação das emoções: crianças com figuras de vinculação tendem a desenvolver mais habilidades de reconhecimento das próprias emoções, aprendendo a regula-las e controlar melhor situações estressantes e que trazem emoções negativas;
3- Promove a expressão de sentimentos e a comunicação: as relações humanas são cheias de desencontros, o que gera muitas frustrações na criança. Porém, quando ela sabe que pode contar com um adulto, ela se sente cada vez mais aberta e hábil a comunicar seus sentimentos, perspectivas e frustrações, pois sabe que ali haverá um ouvido amável pronto para ouvir, diminuindo a tendência da criança de demonstrar suas emoções de formas inadequadas, como batendo ou fazendo birras, por exemplo;
4- Promove uma base para a exploração do ambiente: crianças com uma figura afetiva adulta adequada se sentem mais seguras para explorar o ambiente à sua volta, bem como novas experiências, pois ela saberá que o adulto está “ali para ela”, e que seu amor não é condicionado a manifestações constantes de afeto por parte da criança, deixando a criança mais livre para explorar, se desenvolver e ser quem ela é.
Espero que, com este texto, seu coração perceba o quanto o apadrinhamento ou adoção podem mudar a trajetória da vida da criança em tantos aspectos! Que nosso Senhor Deus te abençoe e aqueça seu coração neste propósito!