Por Carlos Alberto Januário – Pastor da Comunidade Cristã de Ribeirão Preto
Como pais adotivos, somos presenteados por Deus com experiências peculiares. Quero compartilhar uma que eu tive há algum tempo num momento de oração em uma vigília.
Enquanto orava, o Espírito Santo me fez uma pergunta que me deixou intrigado: “O que você diria se alguém afirmasse que seu filho adotivo não fosse, de fato, seu filho?” Num primeiro momento, a pergunta me pareceu sem sentido: “Como assim? Não é meu filho? Obviamente ele é!” Porém, mais uma vez a pergunta do Senhor ecoou tão forte em meu coração: “O que você diria?” – Mas ele é meu filho! Eu o amo como se o tivesse gerado biologicamente.” – respondi. Pela terceira vez, o Espírito insistiu: “O que você diria?” Entendi que Deus queria me ensinar algo e, ao mesmo tempo, desejava que eu lhe apresentasse argumentos de minha paternidade. Um turbilhão de pensamentos e sentimentos inundaram minha alma: “Eu o amo! O Senhor nos deu como filho! Ele foi gerado em nossas orações. Ele é meu filho!”.
Meus olhos marejavam diante do Senhor, e, Ele, mais uma vez, me perguntou: “O que você diria?” Foi então que eu me lembrei do dia em que fui ao cartório, e uma nova certidão de nascimento dele me foi emitida. Quão emocionante foi aquele momento em que, claramente, vi que uma nova história estava sendo escrita ao receber um documento legal, no qual havia escrito o meu nome e de minha esposa como os pais legítimos. Com aquela cena em minha mente, respondi ao Senhor: “Além de tudo que mencionei, eu tenho um documento legal que comprova que ele é meu filho. Diante dos céus e diante das leis humanas, ele é meu filho!”
Nessa atmosfera, tomado pela presença de Deus, envolvido por um amor tão profundo que não sabia explicar, com o rosto banhado pelas lágrimas, eu, então, ouvi o Senhor me dizer: “É dessa forma que eu me sinto em relação a você, filho, você é meu. Eu não tenho filhos de segunda categoria, eu tenho filhos legítimos. Para mim, você é meu filho, assim como Jesus é!” Entenda, Ele não estava dizendo que somos “deuses”, mas que uma vez adotados, assumimos uma nova identidade, somos filhos legítimos de Deus.
Por meio dessa experiência, eu pude entrar no coração de Deus num lugar que, até então, eu não havia entrado. Eu pude ter uma pálida ideia do que Deus sentia por mim e também por cada um de seus filhos que ele adotou na cruz. Pais adotivos têm o privilégio de identificarem-se com esse aspecto do coração de Deus e, dessa forma, o amor e a cruz ganham novas cores e uma nova dimensão.
Antes da experiência da adoção, a insegurança inundava meu coração: “Será que vou amá-lo? E se ele não me amar? E se não der certo?” Mas é incrível a obra que Deus faz em nossas vidas quando decidimos abraçar esse chamado da paternidade. Pais se apaixonam pelos filhos antes mesmo deles nascerem, não importa se são de sangue ou de coração. Filhos são filhos, nos apaixonamos à medida em que estão sendo gerados, seja na barriga ou no coração. Simplesmente não há como traduzir em palavras, pois filhos são uma dádiva que transcende a razão.