Por Raquel Costa Coordenadora de Voluntários
É muito comum pessoas nos perguntarem como começar um projeto em uma Casa de Acolhimento Provisório (CAP) ou Casa Lar – ou um outro projeto social que seja. Dentre as pessoas que já me perguntaram isso nos últimos anos, a resposta que sempre pareciam esperar era de um projeto pronto, com uma metodologia que se encaixasse na realidade da instituição e da igreja.
E, realmente, com anos de prática e conhecendo muita gente que tem feito muita coisa boa pelo Brasil e pelo mundo, quando o assunto é ação social, até que apresentar projetos prontos, para que essas pessoas levem às instituições, seria bem prático.
Mas, para os que tem pressa em começar um projeto, infelizmente não é bem assim que funciona. Por um simples motivo: não adianta nada termos as melhores ideias, métodos e planos, se isso não for o que as pessoas precisam. É frustrante para todas as partes envolvidas.
Então, minha resposta é simples: comece como Jesus. Parece até vago, não é mesmo? Até porque, se estamos nos dispondo a servir crianças vulneráveis, já estamos fazendo o que Jesus faria: amando, nos entregando, cuidando dos órfãos e por aí vai, não é?
Só que esse amor precisa ser traduzido em ações práticas. Vamos voltar a Jesus: quando Ele se encontrava com um necessitado, era muito comum fazer uma pergunta simples, e que confunde muita gente. Mas era a partir dessa pergunta que Suas ações se desdobravam.
O que queres que Eu te faça?
Não vamos discutir aqui as implicações teológicas dessa pergunta, mas uma coisa é certa: antes de Jesus agir, Ele ouvia. Ele parecia adiar todo o Seu mover sobrenatural e milagroso para prestar atenção no que o necessitado realmente queria, na sua demanda mais profunda.
E é justamente assim que precisamos começar nossos projetos. Sem a prepotência de sabermos de antemão o que as pessoas precisam – até porque até Jesus, sendo Deus, fez esse movimento. Então, com humildade, ouvidos atentos e corações abertos, vamos perguntar às pessoas primeiro quais as suas necessidades.
Eu sei que bate uma preocupação nessa hora: “e se pedirem justamente o que não posso/sei fazer?” Bom, está aí um sinal para você passar a demanda para um outro grupo/igreja, ou para você treinar pessoas que possam fazer isso (ou encontrar pessoas que já existam na sua comunidade com essas habilidades e que você talvez nem saiba).
Hoje, aqui em Vila Velha, atendemos três CAPs: uma de crianças de 0 a 12 anos, uma de meninas de 13 a 18 e uma de meninos de 13 a 18. Cada casa com um projeto totalmente diferente do outro. Não porque temos centenas de ideias e pessoas disponíveis. Mas porque cada lugar tinha suas demandas específicas.
Perceba: o projeto não começa em mim nem em você. Começa neles. São as crianças e adolescentes as pessoas principais nessa história. Nossas ideias podem ser muito boas, mas não terão muito “sucesso” se não pararmos antes para ouvir, como o Bom Jesus fazia.
E, quando começamos como Jesus, vemos muitos milagres acontecerem.