Conheça o TBRI

Por Carlos A Januário Pastor e pai por adoção

Como pai por adoção procurei me capacitar para que a experiência fosse a melhor possível, penso que esse é o desejo de todo pai. Realizei leituras, participei de palestras e cursos e nessa caminhada na paternidade, encontrei o TBRI, sigla para a Intervenção Baseada no Relacionamento de Confiança (Trust Based Relational Intervention), desenvolvida pela Profa. Dra. Karin Purvis da Universidade Cristã do Texas (TCU).

 Minha esposa e eu adotamos dois garotos, o primeiro com 1 ano e meio de idade e o segundo uma adoção tardia, com 7 anos e meio, a aplicação dos princípios do TBRI foram extremamente importantes para o desenvolvimento deles, para alcançarmos nossos objetivos de correção de comportamentos e conduzi-los a um crescimento emocional e relacional, por essa razão eu recomendo fortemente aos pais e também aos cuidadores de crianças que passaram pelo trauma do abandono, negligência, rejeição ou abuso (emocional ou físico).

                Crianças que experimentaram condições difíceis acima mencionadas, desenvolvem características singulares de sobrevivência, mesmo aquelas adotadas quando bebês, pois elas trazem experiências oriundas da gestação e parto; quando elas chegam para nós, precisamos abordar de forma adequada.              

Não se pode esperar nossos filhos vindos pelas vias da adoção tenham incialmente a mesma condição emocional, relacional ou social de uma criança que se desenvolveu num ambiente amoroso e seguro.  A boa notícia, porém, é que podemos conduzi-las a essa condição através do suprimento das necessidades de amor e segurança.

                O trauma prejudica o desenvolvimento do cérebro que por sua vez pode afetar diversas áreas como cognição, fala, processamento sensorial, comportamento, entre outras coisas, o trauma também produz dificuldades para a criança desenvolver apego seguro, por essa razão se faz necessário uma abordagem diferenciada. É aí que entra o TBRI, um conjunto de ferramentas nos auxiliam no desenvolvimento de nossos filhos.

                O TBRI é composto por três ênfases que visam restituir o que foi perdido pela experiência do trauma. Abaixo faremos um resumo de cada uma delas.

                Empoderamento – Crianças que experimentaram momentos difíceis, em geral tiveram perdas que comprometeram a sua confiança, elas tendem a acreditar que não são importantes, pois não tiveram suas necessidades atendidas, o princípio de empoderamento irá resgatar o senso de valor. São princípios que buscam suprir as necessidades físicas, atuando desde a preparação de ambiente seguro quanto alimentação saudável e ferramentas de desenvolvimento psicomotor.            

                Conexão – Baseado nos estudos de John Bowlby sobre os estilos de apego, pois observa-se que crianças e adolescentes que passaram por experiências difíceis perderam a confiança em adultos e isso compromete a capacidade de estabelecer vínculos, esse princípio irá fornecer ferramentas que visam trabalhar a criança a partir dos estilos de apego inseguros guiando-as a desenvolver conexão e apego seguro com a nova família ou cuidadores.

                Correção – À medida que fornecemos um ambiente seguro e desenvolvemos a conexão, utilizaremos então de ferramentas para correção de comportamento. Lembrando que a forma de abordarmos uma criança vinda de um contexto difícil deve ser firme, porém amorosa, evitando que gatilhos de medo sejam disparados devido a uma abordagem inadequada para aquela criança.

                A aplicação do TBRI tem produzido muitos resultados positivos, tanto em contextos familiares, casas de acolhimento e até mesmo no sistema judiciário juvenil dos EUA, país onde tem sido amplamente aplicado.

Se você é pai por adoção, cuidador de crianças vulneráveis ou alguém envolvido na causa do órfão, procure aprofundar-se no estudo e aplicação do TBRI.