Por Flávia Luz Vaz – psicóloga, palestrante e voluntária em casa de acolhimento em Vila Velha-ES
Uma causa!
Essa é a razão pela qual as pessoas se movimentam durante sua jornada de vida. Elas buscam realizar sonhos e resolver problemas. Uma causa é o motivo pelo qual vale a pena diariamente levantar para dizer sim e também, para dizer não. Causas habitam no coração de Deus e isso é tão verdadeiro que Ele deixou de forma absolutamente clara algumas das causas que são tratadas como uma prioridade pela igreja.
A palavra afirma que os órfãos e as viúvas estão ranqueando as pautas de prioridade da vida de uma igreja. Ser igreja inclui, necessariamente, se movimentar na direção de olhar e agir em favor das minorias descritas algumas vezes pelas escrituras (Salmo 146:9; 82:3; 68:5 Isaías 1:17; Tiago 1:27).
A escolha no nosso artigo serão os órfãos e quero ainda justificar o porquê. A orfandade é uma das mazelas humanas mais primitivas. Ela aconteceu no Éden, quando o homem e a mulher, por causa do pecado, precisam ser desligados temporariamente da relação com o Pai (Gênesis 3:23). Esse cenário deixa um buraco original e existencial de orfandade. Corações órfãos, filhos órfãos de pais vivos e órfãos, de fato e de direito, abandonados nas ruas e abrigos da sociedade. Todos marcados por uma falta que precisa de reparação. Aqui se abriu uma “brecha” a ser ocupada. Quem fará esse papel? Quem lutará por essa causa?
Quando Jesus realiza a Sua parte no projeto de Deus Ele garante a possibilidade de que nossas vidas recebessem a adoção necessária para que a orfandade do nosso corpo, alma e espírito fosse resolvida (Efésios 1:5). Não somos mais órfãos. Jesus foi o reparador dessa brecha parental. E através do Seu ato redentor outorgou à Igreja a função de continuidade na missão definida pela causa da orfandade. A igreja é a força motriz para “reparar brechas parentais”, para ocupar os buracos que um homem ou mulher deixaram de ocupar. Adoção é nossa causa. Uma igreja, uma adoção. Essa é também nossa missão. Temos nas mãos o poder garantido por Jesus para entrar nesses lugares que têm sido “assolados de geração em geração” e restaurar a vida (Isaías 61:4).
A mentalidade da Igreja precisa ser de uma “influenciadora para a adoção”. Todos os tipos de adoção precisam estar na pauta da noiva de Cristo na terra. A adoção total, a partir da identidade familiar oferecida a uma criança ou adolescente em um registro oficial de uma certidão registrada em cartório. A adoção parcial, através de uma lista de possíveis ações que são passíveis de serem realizadas como Igreja, às quais quero trazer à luz neste texto.
As ações de intervenção social de uma igreja em casas de acolhimento e abrigos se constituem em uma das significativas ações adotivas. A prática organizada e disciplinada de projetos de atenção biopsicossocial com abertura para o discipulado espiritual são verdadeiros motores que permitem adoções parciais a crianças e adolescentes. Nem sempre uma família estará disponível para acolher definitivamente uma criança em seu ambiente familiar, mas certamente uma pessoa idônea da comunidade religiosa poderá ocupar de forma regular um lugar na vida cotidiana de crianças e adolescentes que vivem em casas de acolhida. Essa é uma significativa oportunidade para a Igreja responder com responsabilidade ao clamor da causa da orfandade.
A cerca de 3 anos a Comunidade Missão Praia da Costa em Vila Velha no Espírito Santo tem desenvolvido projetos dessa natureza no seu entorno geográfico. Voluntários membros da igreja participam de um programa experimental que visa ofertar recursos variados a crianças e adolescentes de casas abrigo. A estrutura básica do programa é criar uma rotina interativa da igreja, através da participação dos voluntários dentro do abrigo. Uma agenda semanal é utilizada para que a intervenção através de encontros de discipulado bíblico, aulas de reforço escolar, dinâmicas de psicoeducação, treinamento e preparação para o mercado de trabalho, aulas de inglês e redação, oficinas de artesanato e bijuteria, festas em datas comemorativas como Páscoa, Natal, Dia das crianças, entre outros. Ao mesmo tempo, as crianças e adolescentes participam de reuniões e cultos semanais dentro do espaço da comunidade religiosa. A constância nesse tipo de agenda de adoção que denominamos parcial, tem permitido que a participação na vida de crianças e adolescentes seja real e o acompanhamento minimize “brechas parentais”. Do aconselhamento a uma questão específica sobre namoro com uma adolescente abrigada ao batismo nas águas dentro da vida comum na igreja. Entre as demandas supridas nas casas de acolhida estão presentes questões que envolvem a oferta de recursos financeiros, a igreja participa diretamente do suprimento de necessidades coletivas e individuais da população abrigada. Estado e Igreja juntos cumprindo uma missão que envolve a maior causa do coração do Pai: vidas. O projeto que realizamos por aqui é um piloto. A intenção é criarmos um “modelo de franquia social” para que possa ser aderido por igrejas no mundo. Temos um celeiro farto dentro de nossas comunidades cristãs. Voluntários especializados e disponíveis para investir em órfãos. Talvez para muitos possa parecer um sonho, mas por aqui já começamos a fazer desse sonho uma realidade. A missão? Espalhar essa ideia para que “onde houver uma igreja, aconteça uma adoção”. Porque essa é sem dúvida, a importante causa do Seu coração.