O menino da casa de acolhimento

Por Carlos Alberto Januário – Pai por adoção e pastor

Essa semana eu estive em uma casa de acolhimento de minha cidade para serviço voluntário e enquanto estávamos ali para pintar as paredes de um dos quartos dos meninos, me chamou a atenção que elas estavam cheias de desenhos feitos à caneta pelas crianças do quarto.

A princípio em meu coração eu critiquei o fato dessas crianças terem desenhando e escrito nas paredes daquele quarto sombrio e triste, mas quando me detive para olhar os desenhos eu pude perceber que eles eram os gritos de crianças que tinham perdido sua voz.

As crianças em uma casa de acolhimento não estão ali porque escolheram, elas foram obrigadas a deixar sua família porque de alguma forma elas estavam em risco. Eu entendo que para a proteção delas e a preservação de seus direitos, foi necessário afasta-las do convívio de seus cuidadores, contudo isso não torna o trauma da separação dos pais, menor para elas.

Imagine, pessoas estranhas chegam a seus lares, as levam para um lugar estranho e assustador, as colocam em um quarto para dormir e conviver com outras crianças que ela não sabe quem são. A descrição é em si assustadora para um adulto, imagine quanto é apavorante para uma criança.

Com quem ela pode falar sobre seus medos, sua dor? Ela perdeu a voz, não há quem a escute, precisa colocar para fora a sua angústia e suas palavras. Sim, eu entendi que aquelas paredes eram os gritos de sofrimento e de saudade daquelas crianças. Me chamou a atenção o desenho ao lado de uma cama encostada à parede: Um homem e uma mulher segurando as mãos de um menino.  Me emocionei, parecia até errado eu cobrir aquele desenho com a tinta nova para aquele quarto. Aquele desenho era a forma dele estar próximo a sua família.

Quando terminamos, o quarto tinha até uma aparência bonita, mas em meu coração eu pude entender que por mais bonito que o quarto estava agora, ainda não era lugar para aquelas crianças, elas gritam silenciosamente que precisam de uma família amorosa e segura. 

Enquanto você lê essas palavras, eu oro para que o Senhor desperte a cada um de nós para respondermos ao clamor dessas crianças. Nenhuma criança merece passar por uma situação como essa, toda criança tem direito a uma família.

Não podemos fechar os olhos, ignorar o fato de que elas existem, são dezenas, centenas e talvez milhares em nossas cidades, sugiro a você que procure uma casa de acolhimento de crianças e adolescentes vulneráveis em sua cidade, certamente você e sua igreja podem fazer a diferença, fazendo com que o tempo dessas crianças numa casa de acolhimento seja menos doloroso. Encerro essa reflexão pedindo a você que leia a frase de Nelson Mandela, substituindo a palavra sociedade por igreja: “Não existe revelação mais nítida da alma de uma sociedade do que a forma como ela trata suas crianças”, isso faz sentido para mim, e para você?

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